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A vegetação na paisagem do concelho de Benavente

      As séries de vegetação distribuem-se na paisagem em função das condições edafo-climáticas existentes (figura - 1). Assim, em termos catenais podem-se resumir três situações ecológicas distintas, associadas à sequência do vale, encosta e cume.

 

    No vale, a vegetação está bem adaptada ao excesso de água proveniente das encostas a montante, ocorrendo nas margnes de rios e ribeiras. A vegetação nestas condições, depende desta compensação de hídrica, correspondendo deste modo, à vegetação edafohigrófila.

    Na enconsta, encontra-se a vegetação que depende apenas do tipo de clima existente, sem que haja qualquer compensação de humidade no solo. Esta posição ecológica pressupõe solos com alguma profundidade e sem obstrução à circulação da hidrológica, designando-se assim, como vegetação climatófila.

     Por fim, no cume, surge a vegetação melhor adaptada às condições de secura. Nesta situação, a vegetação desenvolve-se em afloramentos rochosos ou em solos com fraca retenção de água, originando deste modo, a vegetação edafoxerófila.

 

    Mais recentemente, foi caracterizado um novo tipo ecológico de vegetação, posicionando-se entre a vegetação edafohigrófila e a climatófila. Ou seja, esta aproxima-se das características da vegetação edafohigrófila, mas diferênciando-se pelo menor tempo de encharcamento do solo, surgindo assim, o conceito de vegetação temporohigrófila.  

      

Flora e Vegetação de Benavente

Figura 1 - Sintese da posição ecológica das séries de vegetação na paisagem do concelho de Benavente (1, 2, 3 - Vegetação edafohigrófila; 4 - Vegetação temporohigrófila; 5 - Vegetação climatófila; 6 - Vegetação edafoxerófila).

 

1 - Em linhas de água corrente, ácidas e oxigenadas, surge um amial de Scrophulario scorodoniae-Alno glutinosae sigmetum.

2 - Nas ribeiras e rios surge a série do salgueiral de Saliceto atrocinerea-australis sigmetum.

3 - Em leito de cheia de solos limosos aparece um frexial da Ranunculo ficario-Fraxineto angustifoliae sigmetum.

4 - Em solos com encharcamento temporário surge um carvalhal da Ulici welwitschiani-Querco broteroi sigmetum.​

5 - A dominar a paisagem encontra-se nas areias o sobreiral da Aro negleti-Querco suberis sigmetum.

6 - ​Nos arenitos secos surgem fragmentos um azinhal que se aproxima do Myrto communis-Querco rotundifoliae sigmetum, mas possivelmente apenas como bosque secundário.

 

Dinâmica da série de vegetação do sobreiral

      A apreciação cénica das formações de sobreiro existentes no concelho de Benavente, está muito longe da apreciação dos bosques pristinos antecedidos pela Revolução Neolítica, à cerca de 9 mil anos atrás. Hoje, encontram-se apenas alguns fragmentos de bosque, de forma residual, onde a ciência fitossociológica tem contribuido para o aprofundamento do seu conhecimento.

 

      Esta série de vegetação é endémica de Portugal continental, surgindo em solos arenosos, ácidos e pobres em nutrientes, do Plio-plistoceno, sob influência dos andares termomediterrânico e seco a sub-húmido, designanda como Aro neglecti-Querco suberis Sigmetum (figura - 2).

 

     No seu estado climácico é composta pela associação Aro neglecti-Quercetum suberis, formando um bosque denso e sombrio de sobreiros, onde marca especial presença plantas como a garra-saias (Rubia peregrina), a salsaparrilha (Smilax aspera), a madressilva (Lonicera implexa), o espargo (Asparagus aphyllus), a gilbardeira (Ruscus aculeatus), entre muitas outras. O corte ou o desadensamento do porte arbóreo beneficiam os matos pré-florestais, formados por arbustos de grande porte como por exemplo, o medrolheiro (Arbutus unedo), a murta (Myrtus communis), a aroeira (Pistacia lentiscus), o sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus), o lentisco (Phillyrea angustifolia), pertencentes à associação Phillyreo angustifoliae-Arbutetum unedonis. Como segunda etapa de substituição, surge um conjunto de matos integrados na associação Erico scopariae-Quercetum lusitanicae, constituído por plantas como Quercus lusitanica, Erica scoparia e Ulex welwitschianus. Nas orlas de bosque, pode surgir uma comunidade de giestas de Cytisus scoparius. Ainda sobre solos profundos, é frequente a presença de um arrelvado vivaz dominado por Celtica gigantea da Euphorbio transtaganae-Celticetum giganteae, mantido através do pastorieo com baixo encabeçamento de gado. Com a erosão do solo e perda de nutrientes, surgem várias comunidades vegetais heliófilas, onde se destacam os tojais, sargaçais e tomilhais. A associação Thymo capitellati-Stauracanthetum genistoidis é a que melhor representa o território, composta por várias plantas típicas dos sistemas dunares como sejam, o Stauracanthus genistoides, a Armeria rouyana, o Halimium halimifolium, a Lavandula lusitanica, o Halimium calycinum, entre outras. A última etapa de substituição e por isso, a mais afastada do potencial climatófilo, é dominada por um arrelvado terofítico da Corynephoro macrantheri-Arenarietum algarbiensis, onde marca particular presença plantas como Corynephorus macrantherus, Loeflingia baetica var. micrantha, Malcolmia triloba subsp. gracillima e Coronilla repanda.          

 

Flora e Vegetação de Benavente

Figura 2 - Dinâmica da série de vegetação do sobreiral psamófilo, termomediterrânico, seco a sub-húmido de Aro neglecti-Querco suberis Sigmetum. 

 

1 - Bosque de Aro neglecti-Quercetum suberis 

2 - Pré-bosque de Phillyreo angustifoliae-Arbutetum unedonis

3 - Nano-carvalhal de Erico scopariae-Quercetum lusitanicae

4 - Giestal formado por comunidades de Cytisus striatus

5 - Arrelvado vivaz de Euphorbio transtaganae-Celticetum giganteae

6 - Tojal de Thymo capitellati-Stauracanthetum genistoidis

7 - Arrelvado terofítico de Corynephoro macrantheri-Arenarietum algarbiensis



 

Habitats da Rede Natura 2000 encontrados:  

 

2250 (2250pt2) - * Dunas litorais com Juniperus spp.;

2260 - Dunas com vegetação esclerófila da Cisto-Lavandelutalia

2330 - Dunas interiores com prados abertos da Corynephorus e Agrostis;

3170 - * Charcos temporários;

4020 - * Charnecas húmidas atlânticas temperadas de Erica ciliaris e Erica tetralix;

6220 - * Subestepes de gramíneas e anuais da Thero-Brachypodietea;

6310 - Montados de Quercus spp. de folha perene;

6420 - Pradarias húmidas mediterrânicas de ervas altas da Molinio-Holoschoenion;

91B0 - Freixiais termófilos de Fraxinus angustifolia;

91EO (91E0pt3) - * Florestas aluvionais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior;

9240 - Carvalhais de ibéricos de Quercus faginea e Quercus canariensis;

92A0 - Florestas-galerias de Salix alba e Populus alba;

9330 - Florestas de Quercus suber;

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